Deus
me livre! Já pensou? A começar porque sibite não consegue cantar. Quem canta é
o canário, não o cantor Pardo eternizado por Ariano Suassuna no Auto da
Compadecida, que escreveu versos a sua Mãe Suprema. Nem o pássaro que, tal como
sibite, canta e encanta os ouvidos de todas as espécies. Ídolos de pessoas
acostumadas com o trá trá trá de armas de fogo, agora cantarolada nas ruas da
cidade, estarão na grande mídia como destaques do carnaval, a liderar massas, a
receber pomposos patrocínios políticos. Brincar com a violência a faz algo
natural ou é o contrário?.
Se
essa fantasia fosse eterna, sibite não teria mais casa para cantar: arrancadas
– ou para dar espaço a trios e camarotes, ou doentes – as mais antigas e
tradicionais árvores não presenciariam o tapete de concreto que a cidade se
transformou para receber turistas durante um único evento. Se essa fantasia
fosse eterna, nem sibite nem demais artistas da cidade – os preocupados não em
vender um produto, mas em eternizar e engrandecer uma arte – iriam ficar sem verbas
para desenvolver seus projetos. A prioridade seria somente concentrar em um que
seja simpático para vender preferencialmente um político. Como Mauro Duarte
compôs e Clara Nunes eternizou: “por isso não adianta estar no mais alto degrau
da fama com a moral toda enfiada na lama”.
Se
essa fantasia fosse eterna, instituições públicas estariam a flexibilizar
interpretações sobre moralidade e legalidade, para trocar favores com políticos
donos de leis e orçamentos públicos, tais como camarotes em festas, auxílio
moradia, 15º salário, direitos: tá na lei, pode. “Enquanto isso, o Pequeno Nero
toca na sua lira... Ou será na sua guitarra elétrica? O novo sucesso desta
festa momesca: ‘Panis et Circenses’...”, como observava mestre Harildo Déda. E
não adiantaria tentar mudar, porque o sistema eleitoral tá viciado da urna à
composição dos partidos políticos, passando por todas as prerrogativas e
regalias previstas na Constituição Federal.
“Eu
faço figa pra essa vida tão sofrida terminar bem sucedida. Luz do sol é minha
amiga, luz da lua me instiga. Me diga você, me diga o que é que sara sua
ferida, me diga, você, me diga“, agita Baiana System. Opa, peraê: se for “nessa
temperatura, menina, quem aguenta esse sufoco?! Me diga, morena, o que vamos
fazer? Amar , sentir prazer!”. Nesse caso, Alceu Valença e moreno, se for
assim, “quem sabe um dia a paz vence a guerra, e viver será só festejar”?
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