As pessoas, em Salvador, primeira capital do Brasil, estão proibidas de mijar na rua (obs: cachorro de madame, pode) segundo a Lei Municipal nº 8.512/13, que estabelece multa a quem for flagrado cometendo esse ato indiano. Beleza! Limpeza! Só que a Prefeitura esqueceu de colocar banheiros suficientes (ou distribuir os até então não desenvolvidos “nós-bexigais”, o que seria até quem sabe uma solução econômica: dar um nó na bexiga até o pobre explodir – economiza com banheiro público e com bala para o matar). Aí em 2015 a Defensoria do Estado da Bahia entrou com uma ação durante o carnaval cobrando à Prefeitura mais banheiros e limpeza destes. Meses depois, a Procuradoria do Município defendeu que o povo mijar na rua não seria uma “decorrência de (inexistente) omissão estatal, mas sim como uma consequência do comportamento absolutamente injustificado de uma parcela da população que, infelizmente, não se faz imbuída de níveis educacionais e culturais condizentes com a vida em sociedade " (fls. 65 da Ação Civil Pública nº 0520635-05.2015.8.05.0001). Todavia, felizmente, neste ano disseram que vão colocar mais. Na dúvida, durante essa festa milenar (inicialmente criada para louvar com vinho Dionísio e as alegrias dos ciclos vitais), é melhor não se enxarcar com a devastadora droga lícita, a diurética cerveja.
É que em 2015, enquanto a bandidagem “comeu no centro” o ano inteiro, tendo
atingido a classe média com latrocínios banais como de um dos maiores técnicos
musicais do Estado, a música tocada pela fiscalização das cervejarias foi
metálica: os ambulantes que arriscavam vender marcas diferentes das
patrocinadoras oficiais tinham suas mercadorias atentamente e agressivamente
apreendidas. Sobraram as marcas populares, possivelmente elaboradas com milho transgênico
e outras substâncias proibidas na Europa, mas que embebedam os brasileiros
acostumados à porcaria.
Em falar em porcaria, os artistas baianos reclamam da má distribuição das
verbas de patrocínio público à cultura. Não todos, claro. Ricardo Castro,
excelentíssimo ator baiano (cujo nome da peça, “Sexo, drogas e axé music”,
peguei emprestado para essa crônica), não conseguiu se apresentar porque o dono
do estabelecimento privado sucumbiu à crise e não pagou a conta de energia.
Falta luz para o excelentíssimo teatro baiano, um dos mais sólidos do mundo
(como exemplo, Wagner Moura). O homônimo Ricardo Castro, excelentíssimo maestro
baiano, também reclama pela falta de verba para tocar um dos mais ousados
projetos musicais do mundo, o NEOJIBA, que traz cultura da mais alta qualidade
a jovens que nunca teriam essa oportunidade não fosse pela persistência e boa
vontade de pessoas de bem. Bem não fez o chamado Excelentíssimo Governador
(cujo pronome de tratamento obrigatório pela lei da língua portuguesa quase
sempre não combina com seu destinatário), destinando cachês estratosféricos a
somente dois artistas, insaciáveis pelos patrocínios públicos para entreter
massas com publicidades e reboladinhas.
Aos que
vão curtir festas pagas em blocos e camarotes de Salvador: não precisam se
preocupar com nada disso. Podem vir e mijar feliz, consumir suas drogas
(lícitas ou ilícitas) feliz, ouvir axé music feliz. Tudo isso que eu falei é
conversa do povo. Afinal, a maior festa do mundo já foi vendida.
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